Dicas para trabalhar com redes sociais no jornalismo

Adem AY/Unsplash.

s redes sociais atualmente são parte indissociável do jornalismo, especialmente no Brasil, onde 83% das pessoas consomem notícias online, sendo 64% principalmente por meio dessas plataformas, de acordo com o Digital News Report 2022, do Instituto Reuters.

Para atender a essa demanda, a função do social media se tornou essencial nas redações brasileiras. São eles que pensam nas estratégias para levar a informação de interesse público em um mar de conteúdo competindo a atenção da audiência.

Para entender os desafios de trabalhar com jornalismo nas redes sociais, a Ajor ouviu Milena Giacomini, do Núcleo, e Ravi Spreizner, da Agência Pública, que atuam como gestores de mídias nas organizações associadas.

ADAPTAR O MATERIAL 

O principal desafio encontrado é fazer a adaptação das notícias e reportagens para a linguagem de cada rede social, pensando nas particularidades de cada uma. “A rede social nunca vai conseguir entregar a profundidade de uma reportagem, por exemplo, mas pode ser a porta de abertura para um interesse mais profundo na pauta por parte dos internautas”, explica Milena.

Além de pensar nas especificidades das plataformas, Ravi lembra que elas estão se transformando o tempo todo: é necessário estar atento às mudanças dos algoritmos e aos novos formatos que elas desenvolvem. “Quanto mais entendermos esse mundo, melhor podemos hackeá-lo”, diz. “Hackear” para informar é especialmente importante quando mais da metade dos brasileiros evitam as notícias, ainda segundo o relatório do Instituto Reuters.

LIDAR COM A CONCORRÊNCIA E A DESINFORMAÇÃO

Outro obstáculo é enfrentar a disseminação de notícias falsas, já que estas se espalham 70% mais rápido que as verdadeiras e têm maior potencial de viralização, como mostrou um estudo realizado por cientistas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), dos Estados Unidos, publicado em 2018.

A concorrência de atenção, porém, não é apenas com conteúdos desinformativos, já que esses são “lugares de publicações excessivas e muitas vezes mais atrativas que uma matéria jornalística”, afirma Ravi. O jornalismo também requer mais cuidado em suas publicações e se distingue ainda mais da publicidade nesses espaços, como recorda Milena: “Estamos trabalhando com informação, com a credibilidade do veículo”.

ESCOLHER EM QUAIS REDES ESTAR E O QUE DISTRIBUIR

“É um desafio também estar presente em todas as redes, mas eu diria que é preciso escolher estrategicamente onde você consegue estar”, pontua a social media do Núcleo.

Na Pública, o coordenador de redes explica a necessidade de elencar as prioridades da semana. “A Agência Pública não trabalha com hard news, então tem-se um tempo de maturação de produção da reportagem, mas o que não significa o mesmo cenário para sua distribuição em meio digital. Nesse sentido, muitas vezes trabalhamos com o tempo extremamente curto. Sempre pensamos: o que é importante nesta história? E como fazer com que ela chegue mais longe? O que podemos fazer de diferente? Nem todas conseguimos produzir conteúdo especial”, conta.

DICAS

Para além dos desafios, o jornalismo nas redes sociais é cada vez mais relevante para propagar o interesse público e potencializar assuntos que não podem esperar para serem pautados. Os dois profissionais também compartilharam dicas de como disseminar essas informações e garantir que cheguem na audiência certa:

Conhecer seu público

Milena afirma que é preciso tempo para conhecer os seguidores de um veículo e o que eles têm mais interesse em consumir, comentar e compartilhar. “É um trabalho de pensar muito como a gente pode entregar aquele conteúdo da melhor maneira para o usuário, que a priori não tem interesse em ler uma super reportagem enquanto está rolando a timeline”, diz.

Buscar cursos e formações sobre redes sociais

Tanto Ravi quanto Milena concordam sobre a necessidade de fazer cursos para se aprofundar na área. “Vale também aproveitar os cursos gratuitos que as plataformas oferecem a organizações jornalísticas, e também de temas que te interessem. Trabalhar no meio digital é entender que é um processo dinâmico e muitas coisas podem se conectar, mesmo tendo objetivos e linguagens diferentes”, afirma o social media da Pública.

Envolver toda a redação

Segundo Milena, parte importante da rotina de um social media é também a relação com os repórteres, coordenando e pedindo resumos, além de ouvir sugestões para compartilhar a notícia da melhor forma.

Essa é uma estratégia também utilizada pela Agência Pública, que promove Spaces no Twitter com a presença dos repórteres e editores para falar sobre uma reportagem, além de chamadas em vídeos feitas pelos próprios jornalistas para divulgar um material.

Procurar referências e trocar experiências

Milena ainda relatou que é preciso buscar referências em outros veículos, ver como estão divulgando webséries e especiais, além de não ter vergonha de entrar em contato com os profissionais: “Muitas coisas que eu aprendi foi conversando com outros coordenadores de redes sociais e trocando experiências. Isso enriquece para os dois lados.”

Essas referências, para Ravi, podem ser de fora do jornalismo também. Alguém que deseja trabalhar na área precisa “se atualizar diariamente sobre o que está acontecendo no mundo digital e jornalístico, consumir muito conteúdo pelas redes sociais – não só de notícias, mas de segmentos variados.Tudo ajudará a ter mais referências, potencializando seu processo criativo”, diz.

Testar formatos

“Muitas coisas são tentativa e erro. Não existe certo e errado. O que dá certo para um veículo, pode não dar certo para outro. Isso também vai de entender como o seu público consome essas informações”, conclui Milena.

E Ravi complementa: “O que temos como padrão é fazer o que vem dando certo – após muitos e muitos testes – e sempre olhando para o tema abordado para encontrar caminhos diferentes para se distribuir, como em um roteiro de vídeo, um carrossel, uma thread, um spaces”.

PARA SE APROFUNDAR NO TEMA

No workshop “Storytelling: jornalismo bem contado”, do Festival 3i 2023, que aconteceu entre os dias 5 e 7 de maio no Rio de Janeiro, a editora-chefe das revistas Trip e Tpm, Fernanda Nascimento, também compartilhou estratégias de construção de narrativas para as redes sociais. Confira aqui.

Foto: Adem AY/Unsplash.

Tainah Ramos

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