Em sua primeira reunião, realizada no último dia 7 de outubro, a coordenação da Comissão de jornalistas pela Igualdade Racial (COJIRA), do Sindicato dos Jornalistas de Mato Grosso (SINDJOR/MT), deliberou pelo posicionamento contrário à Proposta de Emenda à Constituição nº 10/2022, a chamada PEC do Plasma, que visa permitir a comercialização do plasma, componente do sangue.
A COJIRA-MT tomou a decisão por entender que a medida representa uma ameaça ao Serviço Único de Saúde (SUS), que atende a parte mais socioeconomicamente vulnerável da população, inclusive pessoas negras, que representam maioria entre os pacientes, por exemplo da doença falciforme.
De acordo com Rosalino Batista, presidente da Associação de Pessoas com Doença Falciforme de Mato Grosso (ASFAMT), a entidade também é contra a PEC do Plasma. “Quando comercializa, só visa lucro. Não visa a qualidade do plasma. E a maioria das pessoas que usam o sangue são pessoas muito pobres, que não têm entendimento e nem onde reivindicar. E com isso, vai dificultar ainda mais para as pessoas com doença falciforme, com talassemia e inúmeras outras doenças genéticas que os pacientes precisam do sangue todos os meses para poder viver e ter qualidade de vida”, afirma.
Durante a reunião da COJIRA, em que se deliberou a posição contrária à PEC do Plasma, a coordenadora da comissão, diretora sindical e servidora do MT-Hemocentro há mais de 15 anos, jornalista Magda Matos, destacou que a proposta de emenda à constituição, que tramita com celeridade no Congresso Nacional e já está pronta para deliberação no Plenário do Senado, é uma ameaça aos bancos de sangue públicos e à qualidade do sangue coletado de forma voluntária pelos doadores.
Ela pontuou ainda que, pessoas negras e pobres são maioria entre os pacientes de doenças hematológicas e que a possibilidade de comercialização representa um risco ao tratamento e à vida dessa população. “Há evidências nítidas nas alterações feitas no Parágrafo 4º e inclusão do Parágrafo 5º, no Artigo 199 da Constituição Federal, sobre abertura de precedentes para comercialização do plasma e de tecidos e órgãos humanos. Há risco inerente à vida de todos”, afirma Magda.
O presidente da ASFAMT, Rosalino Batista, denuncia que doenças que atingem principalmente pessoas de baixo poder aquisitivo já são negligenciadas, por exemplo, na formação dos profissionais de saúde. “Se a doença falciforme tem grande demanda, por que não é tratada devidamente? Por que a faculdade não treina os profissionais para poder atender essa população tão carente que precisa? Porque essa doença vem do povo negro, a maioria das pessoas, no Brasil, são pobres, são favelados, não têm conhecimento, o que dificulta tudo. Todo dia 27 de outubro, nós vamos para a Praça Alencastro para estar informando a sociedade sobre a importância dessa doença, que poucos conhecem. Os próprios médicos da atenção básica não sabem, a não ser os especialistas”, afirma.
EVENTO: Até a Última Gota – Como forma de fortalecer o apoio aos bancos de sangue público e aos pacientes hematológicos, a COJIRA-MT se comprometeu a contribuir com a divulgação da exibição do documentário “Até a Última Gota” (1980), do cineasta Sérgio Rezende, que será realizada no próximo dia 23 de outubro (segunda-feira), às 14h, no Cine Teatro Cuiabá. Após a sessão de cinema, haverá um bate-papo com o diretor do filme (por vídeo-conferência), quando o tema da PEC 10/2022 será debatida entre os participantes, online e presentes.
A obra narra a história de Jucenil Navarro de Souza, que vendia seu sangue para sustentar a família e morreu de anemia na porta de um banco de sangue privado, no Rio de Janeiro. O documentário denuncia o comércio poderoso e ilegal de sangue, no Brasil e na América Latina e fala, com discurso atual, sobre os riscos de retrocesso para a saúde de doadores de sangue, pacientes hematológicos e população que precisa de transfusões sanguíneas, de forma pontual ou com regularidade.