Um caminho aberto para outros colegas no país serem incluídos entre o grupo prioritário
Por Luciana Oliveira Pereira – Junta Administrativa Sindjor
A Covid-19 chegou e mudou a vida de todos trazendo uma nova realidade repleta de medo, angústia e incertezas. Medidas de proteção como uso de máscaras, higienização constante das mãos e o isolamento social são bases para buscar manter-se saudável, mas estar nas ruas trabalhando ou cuidando de infectados, exige uma vigilância constante muito difícil e sofrida, principalmente, para aqueles que atuam em serviços essenciais como os profissionais de saúde e os da imprensa.
Repórteres, cinegrafistas, fotógrafos e muita gente em redação labora na cobertura da doença, tendo que manter contato diário com familiares de pacientes, pessoal de funerária, gestores e profissionais de saúde. Para grande parte, a possibilidade do Home Office não foi possível nem nos momentos mais críticos, tudo para garantir a informação certa à população, ainda mais em tempos de tanta fake news e desinformação.
Assim, desde o mês de janeiro, o Sindjor/MT começou a lutar pela inclusão dos profissionais da imprensa entre os grupos prioritários. “No dia 28 protocolamos a solicitação ao governo do Estado e começamos a conversar, mas a possibilidade de incluir nossa categoria ficou condicionada à liberação do imunizante Sputinik V”, explica Itamar Perenha, presidente do Sindjor.
De lá pra cá o sindicato vem buscando cumprir seu papel e proteger os trabalhadores. Em abril um levantamento foi disponibilizado aos profissionais para que se conhecesse o nível de contaminação dentro da categoria e 55% dos participantes (140 jornalistas), declarou ter sido contaminado pelo vírus.
Agora em maio, a Prefeitura de Cuiabá se sensibilizou com os dados, que também mostrou que 47,23% sabe que entre dois e mais de 5 colegas foram recontaminados. Isso iniciou o cadastramento dos profissionais para a vacinação. O critério chave estabelecido pela prefeitura foi à apresentação da DRT, empresas ficaram responsáveis pelo envio à prefeitura de uma listagem com o nome dos seus profissionais e, coube ao sindicato, a partir da apresentação de documentos comprobatórios, emitir a declaração daqueles que estivessem em situação excepcional – os que perderam emprego recentemente, trabalhadores autônomos, avulsos, freelancers e outras formas precárias de contratação passíveis de comprovação documental por fotos ou textos creditados em publicações impressas ou sítios digitais reconhecíveis legalmente.
Foi então que em 27 de maio, mais de mil profissionais começaram a ser vacinados em Cuiabá, abrindo caminho para que outras cidades no Brasil possam incluir jornalistas, que são profissionais de linha de frente, dentro do grupo prioritário.
“A decisão do prefeito teve todo amparo legal, porque está estribada em premissas documentadas, como a que se relaciona ao fato dos jornalistas serem vetores virais superdisseminadores da doença, já que por dever de ofício, estão nas externas, reportando eventos em hospitais e até funerais. Há pareceres de infectogistas que observam a dinâmica da própria doença. Já a questão de natureza legal está disposta nos decretos presidencial da pandemia e do governo do Estado, que consideraram as atividades jornalísticas essenciais, além disto, a legislação do SUS define o município como órgão estruturador do sistema”, explica o presidente do Sindjor, Itamar Perenha.
Cinthya Rocha, que atua em reportagens televisivas, expressou como se sentiu sendo vacinada. “Pra nós que estamos na linha de frente, noticiando o que está acontecendo, entrevistando, buscando informações e, colocando em risco nossa vida, receber a 1a dose da vacina fez passar um filme. Afinal, foram tantas notícias tristes de caos na saúde, falta de UTI, fila de espera, falta de oxigênio, pessoas intubadas e, em meio a isso, sentimentos de medo, aflição e tristeza. A 1a dose renova a esperança por dias melhores, para continuarmos firmes e fortes na missão de informar e, com o sonho de que em breve, todos estejam vacinados”.
Para o repórter de política, Jacques Gosch, a vacina é “um alívio e ser imunizado vendo os colegas que também estão na linha do jornalismo, desde o início da pandemia, sendo vacinados. Ao mesmo tempo, coloca a obrigação de continuar cobrando das autoridades a vacina para todos, porque é o único caminho para vencer a pandemia e voltar à normalidade. Agradeço ao sindicato pela articulação, que deu exemplo para a categoria no Brasil, e ao prefeito, que reconheceu nosso trabalho como essencial e de risco nesse momento”.
“Foi uma emoção muito grande, mas espero que este momento chegue o mais rápido possível a todos os brasileiros, pois a ciência, por meio da vacina, é nosso único caminho de saída da atual situação pandêmica”, destaca a jornalista Isabela Mercuri.
O Sindjor continua conversando com outros gestores públicos, para que a vacinação dos profissionais da imprensa em Mato Grosso possa acontecer em outras cidades e assim, auxiliar na imunização da categoria que corre muito risco e ainda, pela natureza da própria atuação, pode contribuir involuntariamente, com a disseminação da doença.
Fotos: Jornalistas Cinthya Rocha, Isabela Mercuri, Loriane Vilar, Jacques Gosch e Thiago A.