COVID-19: Cinco anos de um esforço para vacinar jornalistas

Escorraçado pela CIB, Sindicato conseguiu apresentar números à Prefeitura. Prioridade aceita.

Desnecessário lembrar que, entre a descoberta do vírus em um laboratório de Wuhan, na China, e sua disseminação pelo mundo, a velocidade impressionante de contaminação gerou um estado de pasmo e perplexidade. A nova doença comprometia rapidamente os pulmões, com tomografias revelando “imagens foscas”, cuja progressão era rápida e assustadora, resultando em casos graves e óbitos.

Diante disso, a China construiu hospitais em apenas dez dias para acolher os contaminados, enquanto a ciência se mobilizou globalmente após a Organização Mundial da Saúde decretar a pandemia. Foi um período de tensão permanente até o surgimento das primeiras medidas para conter a propagação do vírus: redução do contato humano, uso de máscaras, álcool em gel e higienização periódica das mãos. Essas ações, embora insuficientes, eram as únicas alternativas até que uma vacina eficaz fosse desenvolvida.

Enquanto isso, a contabilidade fatal da pandemia era divulgada diariamente, tornando a comunicação um fator essencial para reduzir sua progressão. As estatísticas, acompanhadas com apreensão, foram fundamentais para garantir a adesão popular às medidas de proteção. Quando o vírus chegou a Mato Grosso, encontrou um cenário de caos: falta de leitos de UTI, hospitais sobrecarregados e instalações insuficientes para suportar o fluxo de contaminados, exigindo todos os recursos disponíveis para reduzir os óbitos.

A chegada da vacina

A ciência avançou rapidamente, e a primeira vacina disponibilizada no Brasil foi a Coronavac, fruto da parceria entre o Instituto Butantan e a Sinovac. O imunizante foi aprovado pela Anvisa após comprovar 50% de eficácia, trazendo alívio à população. Os primeiros lotes foram distribuídos por todo o país.

Nesse período, crenças e evidências científicas colidiram com um negacionismo crescente. Ao final, o Brasil registrou mais de 700 mil mortes por Covid-19, uma estatística fúnebre e proporcionalmente elevada em relação à população. O isolamento social foi enfraquecido por incentivos do governo central, e o medo se encarregou do restante: muitas pessoas recusaram a vacina devido a teorias infundadas sobre seus supostos malefícios. Enquanto isso, tratamentos ineficazes proliferavam, alguns defendidos até por profissionais de saúde movidos por ideologias.

Jornalistas tiveram índices alarmantes de contaminação

Diante da necessidade de vacinar uma categoria exposta diariamente ao risco de contaminação, os números de internações mostraram que 52% dos jornalistas estavam sendo infectados. O Sindicato entrou em estado de alerta, preocupando-se com a alta exposição da categoria.

Métodos de desinfecção de equipamentos, esterilização de estúdios e o advento do “home office” ajudaram a reduzir a exposição, mas repórteres e cinegrafistas precisavam estar “in loco” para registrar os acontecimentos. Dessa forma, a proteção das equipes externas tornou-se uma necessidade urgente.

O Sindicato buscou apoio de infectologistas para obter dados e estatísticas que embasassem o pedido de prioridade na vacinação. Com uma taxa de contaminação alarmante e a desmobilização progressiva da força de trabalho, era essencial uma solução para evitar mais adoecimentos. Afinal, uma sociedade sem informação é sempre mais vulnerável em tempos de crise.

Uma decisão acertada da Prefeitura de Cuiabá

Após serem impedidos de participar de uma reunião da Comissão Intergestora Bipartite (CIB) na Secretaria Estadual de Saúde, o Sindicato dos Jornalistas encaminhou um pedido à Prefeitura de Cuiabá. Baseado na decisão do Supremo Tribunal Federal que garantiu a autonomia do SUS e no parecer de infectologistas, o então prefeito Emanuel Pinheiro tomou uma decisão corajosa e tecnicamente correta: incluiu os jornalistas na prioridade de vacinação.

A vacinação foi viabilizada por um sistema de autodeclaração, com mecanismos de checagem e apresentação de registros profissionais ou declarações do Sindicato. As equipes sindicais trabalharam madrugadas a fio para atender jornalistas, inclusive os que atuavam em diferentes locais por razões profissionais.

A angústia da categoria era evidente. Muitos já estavam afastados do Sindicato, mas foram atendidos conforme os critérios estabelecidos.

A segunda dose e a conscientização

Para garantir que todos completassem o esquema vacinal, o Sindicato promoveu uma campanha incentivando os jornalistas a tomarem a segunda dose no prazo correto. Uma revista foi editada para reforçar a importância da imunização, com grande adesão. No interior do estado, algumas cidades também priorizaram a categoria, embora sem a mesma organização da capital. No total, foram realizados 1.832 atendimentos.

A documentação recebida pelo Sindicato demonstrava a pertinência da iniciativa, mas também evidenciava um fenômeno preocupante: jornalistas, editores, videografistas e outros profissionais haviam abandonado suas filiações sindicais. Esse afastamento levanta questionamentos sobre o futuro da profissão diante das mudanças tecnológicas e do mercado de trabalho.

A revolução digital está remodelando carreiras, tornando essencial a adaptação constante. O modelo tradicional de emprego, que sustentava o sistema previdenciário, está se tornando obsoleto. Profissionais precisarão se reinventar, com previsão de que uma mesma pessoa passe por até onze ocupações diferentes ao longo da vida.

Que a ciência continue evoluindo para enfrentar novos desafios, pois pandemias futuras são inevitáveis. Cabe à sociedade estar preparada para enfrentá-las com informação e responsabilidade.

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