Jornalistas assediadas

Rosana Leite Antunes de Barros

Jornalismo e monotonia são palavras quase antônimas. Nunca é possível saber qual será o próximo “furo jornalístico”. Não raras vezes, com a “primavera de mulheres”, as próprias jornalistas são notícias.

A arte em si, faz surgir uma certa “confusão” para aqueles e aquelas que possuem contato com essas profissionais. A conversa é inerente ao sacerdócio. Seria motivo para assédios? Às vezes, as jornalistas acabam se passando por pessoas pouco agradáveis, justamente para não serem “confundidas”. Aliás, as mulheres, em geral, estão preferindo ser reconhecidas como antipáticas, para evitar abusos.

A Federação Internacional de Jornalistas, FIJ, mostrou pesquisa realizada recentemente, evidenciando que uma a cada duas mulheres jornalistas já sofreu assédio sexual, abuso psicológico, assédio online e outras formas de violência de gênero no ambiente de trabalho. O levantamento teve o depoimento de 400 mulheres, revelando que 85% dos episódios não contou com ação repressiva pelos veículos e agências de comunicação. Foi diagnosticado que as redações ou locais de trabalho não fornecem mecanismos para enfrentar, prevenir ou combater os abusos contra mulheres.

A análise assinalou que 48% das entrevistadas passaram por violência de gênero neste ambiente. Em tempos de internet, 44% disseram que sofreram assédio online. O abuso verbal está entre o mais comum, em se cuidando de violência de gênero passada pelas jornalistas, 63%. O abuso psicológico ocorre em 41%, o assédio sexual em 37%, e a exploração econômica em 21%. Infelizmente foram revelados dados inimagináveis, porquanto, 11% sofreram violência física. Quanto aos agressores: 38% eram chefes ou superiores, 39% eram anônimos, e 45% foram pessoas fora do trabalho (fontes, políticos, leitores ou ouvintes).

Todavia, 66,15% das jornalistas entrevistadas não apresentaram denúncia formal. E daquelas que apresentaram, 84,8% não consideram que as medidas tomadas foram o suficiente para enfrentar a grave situação. Apenas 12,3% ficaram satisfeitas com o resultado final. Foi detectado que somente 26% dos locais de trabalho possuem política que abrange a violência de gênero e sexual.

Inclusive, como afirma Jout Jout, as desculpas são diversas quando ocorrem os assédios, que tem sido algo frequente em lugares onde superiores hierárquicos são do gênero masculino. Ela afirma que muitos justificam que foram criados em mundo machista, e, a época em que viveram a conduta era normal. Logo, estão reproduzindo práticas. E segue assegurando que para os homens, outra forma de se safar da denúncia de assédio é informar que se cuidava de brincadeirinha, ou, que essa é a única forma de agradar. Geralmente, assediadores dizem, também, que é costume deles esse “jeito” de tratamento. Resumindo: a culpa dos abusos fica para as mulheres, sempre.

Em terras mato-grossenses, como não podia ser diferente, relatos de jornalistas quanto aos assédios e abusos é corriqueiro. Uma determinada repórter conta que precisou entrevistar uma alta autoridade. Com as câmeras ligadas, o respeito foi exemplar. Após, a pergunta: “Já está desligada a câmera? Olha, achei você muito bonita. Estou encantado! Aceita jantar comigo hoje? “.

É algo inesperado. Assim, poucas mulheres conseguem reagir no momento da ocorrência do fato. As narrativas apontam o descrédito de terceiros ao ouvirem sobre os episódios. A desconfiança acontece naturalmente. Por ser tão absurdo, a própria vítima se questiona se foi assediada.

Todas essas invasões do corpo, têm graves consequências na vida das profissionais. Algumas preferiram ficar mais distante dos superiores hierárquicos, ou de qualquer exposição, para poder desempenhar o labor. Outras, acabam tendo que “engolir sapos” para poder se igualar ao gênero masculino no mundo do trabalho. Até quando?

Rosana Leite Antunes de Barros é defensora pública estadual.

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